Em meio a uma nova onda de desclassificação de documentos sobre o assassinato de John F. Kennedy, o Brasil surge repetidamente nos arquivos liberados pelos Arquivos Nacionais dos EUA. A conexão, antes relegada a notas de rodapé da Guerra Fria, agora ganha contornos mais nítidos, revelando um envolvimento direto dos Estados Unidos na política brasileira durante os anos 1960 — e uma possível ligação com o atentado que chocou o mundo em 22 de novembro de 1963.
A Preocupação de Kennedy com o Brasil
Nos documentos liberados, o governo Kennedy aparece monitorando de perto a situação política do Brasil, então sob a presidência de João Goulart. Em plena Guerra Fria, Washington temia que o Brasil seguisse o mesmo caminho de Cuba, alinhando-se ao bloco comunista. Relatórios da CIA e do Departamento de Estado detalham encontros estratégicos para avaliar uma intervenção, caso a “ameaça vermelha” se confirmasse.
Em julho de 1962, Lincoln Gordon, então embaixador dos EUA no Brasil, reuniu-se com o presidente Kennedy para debater um possível golpe militar no país. Gordon alertou que os militares brasileiros eram “muito anticomunistas e suspeitavam de Goulart”, mas careciam de unidade para agir por conta própria. Essa conversa teria sido um dos primeiros passos na articulação do golpe de 1964, que derrubaria Goulart com apoio velado dos Estados Unidos.
O Brasil nos Arquivos do Assassinato de JFK
A menção frequente ao Brasil nos documentos de JFK sugere que o país estava na linha de frente da estratégia americana para conter o comunismo na América Latina. Mas há outro ponto obscuro nessa conexão: alguns arquivos sugerem que grupos ligados a operações clandestinas na América do Sul podem ter tido um papel indireto no assassinato de Kennedy.
Entre os registros analisados, aparecem referências a brasileiros envolvidos em atividades de inteligência, incluindo espiões que trabalhavam para os Estados Unidos. Um dos nomes citados, ainda sob sigilo parcial, teria sido um informante da CIA no Brasil e mantinha contato com grupos exilados cubanos — o mesmo grupo apontado como um dos suspeitos de envolvimento na morte de Kennedy.
Além disso, há registros sobre movimentações financeiras atípicas envolvendo empresários brasileiros e contas offshore utilizadas em operações secretas da CIA. Algumas dessas transações coincidem com financiamentos destinados a ações de desestabilização política na América Latina.
A Operação Brother Sam e a Interferência Direta
Outro documento confirma a existência da Operação Brother Sam, um plano elaborado pelos EUA para dar suporte logístico ao golpe militar de 1964 no Brasil. A estratégia incluía o envio de navios de guerra e armamentos, caso os militares brasileiros enfrentassem resistência ao depor João Goulart. Embora nunca tenha sido executado, o plano demonstra que Kennedy estava disposto a agir diretamente para mudar o rumo da política brasileira.
Com a morte de Kennedy, Lyndon B. Johnson assumiu a presidência e acelerou os planos de intervenção no Brasil. Em abril de 1964, os militares tomaram o poder, e os EUA prontamente reconheceram o novo governo. Coincidência ou não, essa rápida resposta reforça a teoria de que a política externa americana sofreu uma guinada estratégica logo após o assassinato de JFK.
Teorias e Implicações
Os novos documentos reacendem debates sobre a real motivação por trás da morte de Kennedy. Se ele estivesse vivo, teria mantido sua política de desescalar as operações secretas na América Latina? O envolvimento americano na política brasileira poderia ser um dos motivos pelos quais forças internas buscaram sua eliminação?
Embora não haja prova definitiva ligando o Brasil ao atentado contra Kennedy, a menção repetida ao país nos arquivos sugere que a Casa Branca via o território brasileiro como um ponto estratégico na Guerra Fria. E essa importância pode ter desempenhado um papel mais significativo nos bastidores do que se imaginava.
A liberação completa dos arquivos pode trazer respostas mais concretas, mas, por enquanto, uma coisa é certa: a história do assassinato de Kennedy e a história política do Brasil estão mais entrelaçadas do que se imaginava.